quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Paraíso Brasileiro

PARNASO TERESÓPOLIS - O PARAÍSO DO BRASIL

Com um cenário natural formidável e mata atlântica primária, o Parque nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, conta uma história que vem antes da sua descoberta em 1939.
Os primeiros a habitarem o território, foram índios guaranis, estes faziam cerimônias, dormiam e caçavam nas matas do Parque. Com a chegada dos portugueses, suas paisagens se tornaram fonte de inspiração para composições portuguesas.
A principal atração a despertar a curiosidade dos novos habitantes, foi o Dedo de Deus. Ao observarem da Baía de Guanabara a pedra e a  formação montanhosa que a rodeava, começaram a comparar outras montanhas a instrumentos musicais presentes na maior parte das catedrais Européias, nomeando o local de Serra dos Órgãos.

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO), é o terceiro parque mais antigo do país, representando um importante marco na história de Teresópolis. O Local é uma unidade de conservação Federal de Proteção Integral, subordinada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), cujo objetivo maior é o de preservar amostras representativas dos ecossistemas nacionais. Sua área possui 10.527 hectares, abrangendo quatro municípios do estado do Rio de Janeiro: Teresópolis, Petrópolis, Guapimirim e Magé.
O núcleo, protege florestas primárias, 83 de mamíferos, 101 anfíbios, 462 espécies de aves e um grande número de espécies endêmicas (que só ocorrem na região). Está situado no domínio da Mata Atlântica, sendo considerada pelo Ministério do Meio Ambiente, fundamental para a conservação de recursos da flora e da fauna.
Professores e estudantes, utilizam o local para aulas de educação ambiental, pesquisa científica, estudos e divulgação sobre os recursos naturais.  O PARNASO, procura conservar valores culturais, históricos e arqueológicos. É um patrimônio cultural da nação, para investigação e visitação. Nele são desenvolvidas atividades de lazer como trilhas, banhos de cachoeira, piqueniques e esportes de aventura. Promove anualmente atividades familiares e turísticas. A pedra do sino, ponto culminante do parque, com 2263 metros de altitude, possibilita aos visitantes a oportunidade de acampar e ter uma vista para a baía de Guanabara e aos mais aventureiros fazer uma travessia de 3 dias que vai até Petrópolis. Entre seus principais atrativos estão o centro de visitantes, a piscina natural, trilha Mozart Catão, Trilha da Pedra do Sino e os poços de cachoeiras.


Primeiros habitantes do Parnaso e a ocupação da região

Os primeiros habitantes a ocuparem a área do Parnaso foram os índios Timbiras e os Tamoios. Esses tinham domínio da região de Magé, se estendendo até Teresópolis. O parque era um local de moradia e nele eram realizados caças, rituais religiosos e banhos de rio. Com a chegada dos escravos ao Estado do Rio de Janeiro, se tornou também um lugar de estadia provisória, chamado por “Quilombo da Serra”.
No século XVI, Teresópolis ganha novos olhares. O primeiro a observar, foi o cartógrafo Lopo Homem, admirando formação rochosa ao fundo da Baía de Guanabara. Chamando atenção para outros colonizadores, a região recebeu o nome de Serra dos Órgãos, mencionado pela primeira vez em um mapa de Bartolomeu Velho. Em 1583, Índios da tribo de Araribóia receberam as sesmaria de quarto léguas, do rio Macacu a serra dos Órgãos, ocupando parte da região.
No século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais, os portugueses se interessaram em abrir novos caminhos pela serra. O primeiro a abrir uma passagem, foi o fazendeiro Bernardo Proença, criando uma subida a partir de uma trilha indígena. O circuito seguia pelo alto da Serra da Estrela, área do Parnaso em Petrópolis. Com a chegada de novos habitantes a serra, Teresópolis começou a ser colonizada. Em 1780, foi criada a primeira fazenda por João do Couto Pereira, sendo arrendada, em 1818, pelo inglês George March, fundador de Teresópolis.
A chegada dos montanhistas
A fascinação pelas altas montanhas da Serra dos Órgãos começou a se propagar no século XX. Montanhistas organizavam excursões para explorar a área, o que contribuiu muito para a fundação do Parnaso. A primeira expedição foi realizada pelo botânico escocês George Gardner, que criou a trilha para a Pedra do Sino, a partir do trabalho de 100 escravos do colonizador George March. A construção da trilha foi realizada a cavalo. Mais tarde, quatro abrigos foram construídos ao longo dos 11,5 quilômetros e a trilha bem aberta, de acesso muito mais fácil do que nos dias de hoje.
Um fato marcante para a história do Parnaso, foi à conquista do Dedo de Deus, palco do nascimento do Montanhismo no Brasil. Após tentativas frustradas de equipes européias, muitos o consideravam inatingível, pois vários veteranos montanhistas estrangeiros não conseguiram conquistá-lo. No ano de 1912, o ferreiro José Texeira Guimarães e os irmãos Américo de Oliveira (Acácio, Alexandre e Raul Carneiro), alcançaram o topo da montanha pela primeira vez. Eles contaram com a ajuda do menino, João Rodrigues de Lima, que levava comida todos os dias até a base da escalada. Os cinco companheiros enfrentaram paredões abruptos, fendas estreitas na rocha, passagens sobre abismos, além de muito frio. Ao retornarem foram recebidos como heróis.
 A conquista do Dedo de Deus, atraiu outros montanhistas para Teresópolis. A Serra dos Órgãos era intensamente freqüentada pelos aventureiros e se tornou o principal cenário do montanhismo no Brasil. O fascínio que eles tinham pelas montanhas, chamou a atenção de cientistas e políticos, tendo um papel excepcional para a criação do Parnaso.
O nascimento do Parque Nacional da Serra dos Órgãos
No início do Século XX, se tornou grande a preocupação, principalmente dos países industrializados, em defender seus recursos naturais. Foram criadas áreas de proteção para a flora e a fauna, cuidando também, da beleza das paisagens e dos monumentos naturais. Em 1938, o Jornal do Comércio, publicou uma nota sugerindo a criação de um parque nacional em Teresópolis. A nota dizia o seguinte: “converter as cabeceiras dos rios que correm para baixada Fluminense, para Teresópolis e para o município de Petrópolis, abrangendo as montanhas elevadas e os picos altaneiros que disputam com as” Agulhas Negras “Itatiaia e os vértices agudos da Serra de Caparaó, as primazias de pontos culminantes de nosso caro Brasil, de onde se destacam o inconfundível “Dedo de Deus”, a Pedra  Açu”, o “Campo das Antas”, num belíssimo Parque Nacional que nada ficaria devendo às mais adiantadas criações desse gênero”.
As freqüentes visitas do Presidente Getúlio Vargas às fazendas das famílias Guinle, Sampaio e Machado, e as promessas de doação de áreas e proteção das florestas, foram decisivas na criação do Parnaso. Em 30 de novembro de 1939, foi assinado o Decreto-lei n°1.822 criando o Parnaso, O território abrangia os municípios de abrangendo Magé, Petrópolis e Teresópolis, mais tarde Guapimirim (se emancipou de Magé em 1990).
O PARNASO recebeu grande infra-estrutura na década de 1940, quando foram implantada as sedes  v Guapimirim e Teresópolis. Instalações como a piscina natural, os prédios da administração, depósitos, garagem, residências funcionais e os quatro abrigos da Trilha do Sino foram construídos nesta época. A visita de embaixadores e autoridades da república, tornaram o parque uma importante atração para Teresópolis. Na década de 50, chegando a receber até 500.000 pessoas por ano. Trabalhavam nele 250 funcionários, dentre eles garçons servindo de smoking nos abrigos da montanha.
Na década de 60, com a transferência da capital do país para Brasília, o Parnaso enfrentou um período de decadência, com escassez de recursos para a manutenção. Em 1970, os quatro abrigos foram destruídos, um deles conseguiu ser recuperado em 2000, onde hoje serve de apoio aos visitantes da Pedra do Sino. A recuperação do PARNASO, só se deu na década de 90, com restauração dos prédios antigos, construção do Centro de Operações, Casa do Montanhista, transformação do Abrigo Paquequer na Pousada Refúgio do Parque, implantação do auditório “O Guarani” e do Centro de Visitantes.
Travessia Petrópolis-Teresópolis
Um das mais tradicionais do Brasil, a travessia Petrópolis-Teresópolis, localizado no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, é considera um clássico nacional de caminhada e montanhismo. O percurso vai desde o Morro do Açu (Petrópolis) a Pedra do Sino (Teresópolis) . São 30km de extensão, admirando de frente a majestosa cadeia de montanhas da Serra dos Órgãos.
A travessia começa na portaria da Sede Petrópolis do PARNASO, com uma caminhada até o Açu. A trilha possui grande variação altitudinal, começando com 1.100m de altitude na entrada do Parque, chegando a 2.245m de altitude na Pedra do Açu. Os 7km iniciais da trilha que vão dar na pedra, permitem atrações como visita a Gruta do Presidente, cachoeira do véu da noiva, Pedra do Queijo (um bom local para descanso com vista panorâmica para o Vale do Bonfim), os picos da Alcobaça e do Alicate e os Castelos do Açu (formação rochosa cheia de reentrâncias onde é possível se abrigar da chuva e do vento). No final da trilha é possível avistar a cidade do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense.
Ao começar a Travessia à primeira paisagem a admirar é a do Morro do Marco. O lugar é identificado por pirâmides de pequenas pedras que dá nome ao morro. Nas trilhas do Morro é possível conhecer os Portais de Hércules, um mirante na beira das vertentes mais inclinadas da Serra dos Órgãos, com visão para o vale da Morte. Na descida chega-se ao Vale da Luva, lugar repleto de plantas epífitas, entre as quais destacam-se orquídeas endêmicas da Serra dos Órgãos. O vale é indicado para acampamentos e banhos de cachoeira. Caminhado até o Morro do Dinossauro, fica possível visualizar a Pedra do Sino, o Vale das Antas e a Pedra do Garrafão. No vale das Antas, estão outras nascentes do Rio Soberbo e o local tem água o ano inteiro. Esse ponto da travessia já se encontra em Teresópolis e subindo ao Dorso da Baleia, aparece a vista para a maior parede de escalada do Brasil, onde estão as vias Franco-Brasileira e Terra de Gigantes.
O último percurso, inclui apenas a descida da Pedra do Sino. São 13km com belas vistas para Teresópolis e para O Parque Estadual do Três Picos. Ao longo do caminho, a vegetação começa a mudar, com grande quantidade de bromélias e orquídeas. A trilha passa pelas ruínas do antigo Abrigo 3, local de descanso com mirante e nela é possível aproveitar duas cachoeiras, com destaque para o Véu da Noiva de Teresópolis com cerca de 16 metros de queda.
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos e Teresópolis

O PARNASO é fundamental para a economia de Teresópolis. Atualmente ele é o principal destino turístico da cidade. São montanhistas e aventureiros do mundo inteiro, que vem para fazer trilhas e escaladas, além de turistas que desejam apreciar suas belas paisagens. 

ENTREVISTA COM ERNESTO VIVEIROS - DIRETOR DO PARNASO

“Freqüento o Parque desde criança. Meus avôs têm sitio em Teresópolis desde 1982 e costumava visitá-los sempre. Na adolescência comecei a  fazer trilhas pra Pedra do Sino e outras e desde então não parei de vir. Quando novo adorava viajar e conhecer novos parques sempre que possível. Isso influenciou a escolha de estudar o curso de Biologia e em seguida fazer um concurso para o IBAMA.
Vim para o PARNASO em 2004, para assumir a chefia. Trabalhava a pouco menos de dois anos no IBAMA, tendo começado na diretoria de licenciamento e depois na Superintendência do Rio, mas o que eu queria mesmo era trabalhar em Parques, especialmente o da Serra dos Órgãos. Me senti muito feliz quando surgiu o convite para assumir a chefia e aceitei de imediato.
Esse lugar tem um papel fundamental na minha vida, tanto no plano pessoal quanto profissional. No plano pessoal o parque representa muito pra mim. Eu trabalho aqui, vivo aqui (em uma residência funcional) e nas horas vagas aproveito para passear neste que é um dos mais lindos parques do país.  No plano profissional, o PARNASO protege um dos mais importantes remanescentes da mata Atlântica, com a maior riqueza de aves registrada neste bioma e mais de 130 espécies ameaçadas de extinção.
Durante a minha administração diversas ações foram desenvolvidas por mim e pela equipe, lutamos muito para o desenvolvimento desse lugar que é uma paixão de todos nós. 
Logo em 2004 estruturamos o conselho consultivo e passamos a ter a participação de diversos setores da sociedade na gestão: moradores do entorno, pesquisadores, montanhistas, prefeituras e empresários.
Entre 2005 e 2007 elaboramos o plano de manejo (o primeiro plano elaborado pela própria equipe de uma unidade de conservação no Brasil). O plano é a ferramenta mais importante de planejamento e gestão em uma unidade de conservação. Outra ação importante foi a ampliação do parque. 
Em 2008 o parque foi ampliado de 10.650 hectares para 20.030 hectares (quase dobrou). Os estudos foram todos desenvolvidos por nós e contamos com a participação e o apoio do conselho e das comunidades do entorno.
Entre 2008 e 2009 o Parque foi escolhido como prioridade do programa Turismo nos parques e recebeu mais de 3 milhões em investimentos em infraestrutura turística.
Desde 2004 apoiamos fortemente a pesquisa científica e nos ultimos 5 anos o Parque foi a unidade de conservação com mais pesquisas no Brasil. Em 2009 foram 66 projetos, representando um crescimento de 500% no número de pesquisas e gerando muito conhecimento para auxiliar a gestão.
Desde 2004 a visitação mais do que dobrou, de cerca de 50.000 visitantes/ano para mais de 120.000 (em 2009).
A fiscalização também teve crescimento de 500% no número de multas ambientais emitidas em 5 anos. Em 2009 foram apreendidos mais de 2000 pássaros capturados ilegalmente na região.
Recentemente tive a idéia junto com outro amigo, de escrever um livro sobre o PARNASO. Sempre que visitava parques brasileiros sentia falta de informações que permitissem ao visitante conhecer os parques com independência, mas com informações adequadas para sua segurança e sobre as normas do parque. No exterior estes guias são comuns. Eu estava com essa idéia arquivada há algum tempo.
 Paralelamente, o  montanhista Waldyr neto tinha publicado um guia de trilhas de petrópolis há alguns anos. Uma vez conversávamos em uma reunião do conselho e o provoquei para escrever o guia do parque. Ele respondeu que topava se eu escrevesse junto. Apesar das diversas atividades de cada um, reservamos os dias de folga para refazer todas as trilhas, mapear, fotografar, escrever, editar e revisar o livro. Foi um grande prazer.”


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