segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um exemplo de Mulher

A sociedade se encontra e se perde em seu dia a dia. Se encontra na sua vaidade e se perde na sua omissão.Vivemos como quem não tem nada a ver com o que acontece ao nosso redor. Somos apenas meros turistas caminhando pelas ruas que habitamos. A cada passo nos deparamos com o problema dos outros. Problemas dos políticos corruptos, da polícia ignorando a violência, problemas que nossas medíocres vidas não podem cuidar ou resolver. Protestos não fazem parte do nosso cotidiano, só pedimos por justiça quando somos pobres ou quando um tiro atinge o corpo de um jovem e esse jovem é nosso filho.


Assim começa a história de Anna Carolina Franco, uma pessoa comum, da classe média, com uma família feliz e unida. Sua vida sempre foi uma grande aventura e apesar de alguns obstáculos, repleta de alegria. Aos, 23 anos já se mostrou guerreira, passando no
primeiro concurso militar para mulheres com 17.000 mil concorrentes. Aos 26 anos se casou e teve seu primeiro filho, três anos depois nasceu o caçula. Sua grande alegria era chegar em casa e ver o sorriso dos meninos, pois tinha que trabalhar e o tempo que restava para fica com eles era valioso. Quando pode perceber, todos os seus sonhos tinham se tornado realidade.
Com o tempo vieram os desentendimentos no casamento. Depois de muitas tentativas de conservar a família unida a separação foi inevitável. O filho mais novo, na época com 13 anos, pediu para ficar com o pai e o mais velho com a mãe. Esta separação do filho mais novo foi muito difícil, mas sentia que estaria bem com o pai.
Os dias se tornaram dias de dedicação ao irmão com problemas mentais e ao filho mais velho. Como estava dispensada do trabalho tinha mais tempo para estar com a família. Apesar das dificuldades no caminho, Carol sempre teve o apoio e suporte da mãe. A relação das duas era muito forte, uma relação de confidentes. Infelizmente, o aparecimento de um câncer, em 2005, causou a morte de dona Elzany, separando mãe e filha.

- Ela era o meu porto seguro, o meu norte. Perdi o chão, pensei que não poderia viver sem o seu amor, o seu exemplo de mãe, mulher e o ser humano mais completo com quem tive o privilégio de viver. Foi muito difícil reerguer-me deste golpe, mas contei com o amor e apoio do meu filho mais velho. O Felipe me deu forças para prosseguir, por estar sempre do meu lado, com sua alegria, carinho e amor principalmente, declarou Anna.

Nesse momento suas responsabilidades aumentaram. Carol ficou com a tutela do irmão especial a pedido da mãe. Foi necessário prosseguir em prol da família, descobrindo assim uma força interior que até então não conhecia. O filho mais velho se tornou seu maior companheiro. Havia uma união intensa entre os dois. Trocavam alegrias, dúvidas e tristezas. Felipe era seu melhor amigo, mas no dia 19 de outubro de 2006 ela recebeu uma triste notícia: seu filho estava morto.
Mais uma vez os sonhos se perderam e surgia uma dor sem fim. Não era um engano. Felipe foi atingido por uma bala perdida ao sair da escola. O desespero tomou conta dessa mãe que perdeu mais que um filho, perdeu seu grande companheiro. O bom menino, aquele que nunca reclamava de nada e estava sempre pronto para ajudar o próximo, havia retornado a Deus.

- No dia do seu enterro senti como se a vida tivesse se esvaído de mim. Eu era um corpo sem alma, um zumbi. O mundo perdeu as cores, os sons se calaram. Não conseguia sentir mais nada a não ser uma sensação de morte em mim. Apenas o coração continuava batendo e o pulmão insistia em respirar, declarou Anna.
Felipe Augusto Franco Ribeiro em seu último ano de vida – 1987 a 2006

É nesse momento que voltamos ao início da história, “Protestos não fazem parte do nosso cotidiano, só pedimos por justiça quando somos pobres ou quando um tiro atinge o corpo de um jovem e esse jovem é nosso filho."
Anna Carolina Franco é uma mulher como outra qualquer. Até então sua história não é diferente da história de outras mulheres que perderam seus filhos. Na verdade ela teve uma vida muito melhor do que a da maioria. Mães pobres, doentes, passando fome. Mães que não conseguem resgatar a dignidade dos filhos mortos. Mas ela fez a diferença seguindo sua vida e dessa vez olhando mais para o próximo.
A mulher comum deixou de existir. A dor lhe deu uma condição humana melhor, podendo ser mais útil e deixando de se preocupar com coisas pequenas. Hoje, é presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente –
CMDCA, em Rio das Ostras, tendo a oportunidade de criar políticas públicas apoiando meninos como os que tiraram a vida de seu filho e podem tirar a vida de outros se não forem cuidados. O trabalho envolve projetos que cuidam de casos como a prostituição infantil, uso de drogas, meninos de rua, gravidez de adolescentes e mercado de trabalho para jovens.

- Eu queria e preciso trabalhar com jovens e adolescentes para ajudar o maior número de famílias para não virem a sofrer o que eu sofri . Acredito que a diminuição da violência, dando mais oportunidades pode mudar a nossa sociedade, pode fazer a diferença. Não poderia mais ficar de braços cruzados e ver tantas mães sofrendo com a perda de seus filhos, afirmou Anna Carolina.
Seguidora da Instituição religiosa Perfect Liberty, passou a prestar apoio e orientações aos que sofrem. Ensinamentos objetivando eliminar a dor, restaurar a vida e voltar a sentir felicidade. Assim, pode enxergar problemas ainda maiores que os seus.
A superação não é fácil. Anna Carolina hoje é exemplo para muitas mulheres, porém sua vida precisou de fortes sofrimentos para se desenvolver. O recado dela para essa gente que não quer passar pela mesma dor é tomar uma atitude antes de ser atingido. Negligenciar o próximo, é negligenciar a si mesmo.

Palavras de um exemplo de mulher, de uma nova mulher, de uma cidadã:
“Penso que somos nós quem criamos e conduzimos o nosso mundo. Nós fazemos as nossas escolhas. Todo o mundo é movido pelas emoções humanas e algumas delas podem destruir coisas e pessoas. Acredito que o homem que puxou o gatilho, estava movido pela ira, e o meu filho estava naquele lugar também movido pela teimosia, pois havia ligado para ele uma hora antes de ser atingido pedindo que saísse da escola e fosse para casa. Ele escolheu ir numa lan house antes. Este ó o ponto central da nossa sociedade e da humanidade. Políticas podem ser criadas para melhor controlar a sociedade, dando melhores oportunidades, mas é preciso que os homens busquem uma melhora na sua condição humana, que permitam viver os valores que se perderam. Seria necessário uma ação em conjunto. Recuperei minha paz interior quando me predispus a trazer Deus para dentro de mim. Sinto que a vida é um presente no presente e devemos vivê-la com profundo sentimento de gratidão e amor. Esse é o meu recado para as mulheres que passaram pela mesma experiência que eu: Perdoe. Ame a vida sempre com profundo sentimento de gratidão à Deus”.
A história de uma grande mulher por Ana Carolina Inglez

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